Ela era só uma menina que não
sabia amarrar os sapatos, só usava sapatilha. Simplificava as coisas. Gostava
do gosto amargo do café e da brisa quente que antecedia um temporal –ou vendaval.
Gostava ainda de vermelho, porque lembrava sangue. Adorava sentir o gosto de sangue, deixava os lábios secarem no inverno. Gostava de fumar com dor de garganta, a fumaça
densa descendo e queimando e descendo, e queimando. Adorava apagar os cigarros
nos pulsos, adorava os círculos perfeitos que criava. Não sabia fechar zíperes
nem abotoar botões, só usava vestidos. Prendia o cabelo com fitas, laço sabia
dar. Nó não. Odiava a sensação de nós. Era fluída, tão fluída que passou como
água, que depois que passou era dor, depois lembrança e antes que percebesse,
virou água. Ava.
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"Gentileza gera gentileza." - Profeta Gentileza.