domingo, 18 de agosto de 2013

Ava

Ela era só uma menina que não sabia amarrar os sapatos, só usava sapatilha. Simplificava as coisas. Gostava do gosto amargo do café e da brisa quente que antecedia um temporal –ou vendaval. Gostava ainda de vermelho, porque lembrava sangue.  Adorava sentir o gosto de sangue, deixava os lábios secarem no inverno. Gostava de fumar com dor de garganta, a fumaça densa descendo e queimando e descendo, e queimando. Adorava apagar os cigarros nos pulsos, adorava os círculos perfeitos que criava. Não sabia fechar zíperes nem abotoar botões, só usava vestidos. Prendia o cabelo com fitas, laço sabia dar. Nó não. Odiava a sensação de nós. Era fluída, tão fluída que passou como água, que depois que passou era dor, depois lembrança e antes que percebesse, virou água. Ava. 



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