Escrever mais de cinqüenta linhas e apagar uma a uma, uma, duas
ou três vezes.... Esse tem sido o meu processo produtivo, intenso e
desmoronado, que eu mesmo faço desmoronar, a marteladas, porque eu não tenho
gostado das minhas coisas, por mais que eu tente soar bonito...não ando
conseguindo me agradar...
Apaguei mais umas dez linhas, e vou tentando continuar com
meu jeito troncho de ser, tentando expressar a inexpressão de ultimamente, sabe
essa coisa de simplesmente estar feliz, simplesmente estar um pouco
completo...essa coisa de me sentir completo traz a terra toda a inspiração,
essa coisa de não sentir dor, de sofrer menos....essa coisa....eu ando vazio de
tão completo... “Conheço homens feito você, nunca estão completamente felizes,
sempre procurando mais alguma coisa, sempre imersos em si...” (ouvi isso de um alguém qualquer) Será que é isso?
Mas eu to tão bem, to tão feliz....isso de me construir a partir de modelos, do
que as pessoas dizem de mim, talvez seja isso que esteja contribuindo para a
minha constante desconstrução...ai vem aquela onda de frases clichês das
pessoas pouco amadas, “vou ser eu mesmo e a sociedade que morra”, e todo esse
lixo pré-modulado, entretanto é isso,
tentar filtrar o que me afeta (tudo me afeta, tudo me muda, tudo muda
todo mundo e eu não seria imune...), me afetar menos, me mudar menos, me
influenciar menos...deixar a natureza ser....
Essa tentativa
esquizofrênica de construir um discurso, é a representação do meu eu,
descoordenado, cheio de parênteses para explicar pontos que nem eu entendo nem
os parênteses por mais longos que sejam se explicam, cheio de reticências
porque não tem mais o que dizer, não sei mais o que vem depois, um texto em escombros...sou eu, um
grande desconhecido de mim....
E o que começou falando sobre a fadiga de não conseguir
escrever, passou pela vida e culminou em mim, se repete, eu falo de mim, eu
envio cartas a mim é tudo endereçado e datado, só que agora no meio, tem um (muito)
pouco de um outro alguém....
E comigo é sempre tudo assim, desmoronado, é tudo em ruínas recém-construídas....
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