quarta-feira, 18 de maio de 2011

Gélida


Um conto escrito em momento de alfa, de inspiração primeira, de esquecimento do resto, de olhar para o nada e ver o tudo, de sentir o em volta e esquecer que esta ali. 
Escrito, e reescrito. Espero que gostem.

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Rodopia pela sala, não sabe o que fazer; a saia de cetim salmão sobe e brilha como o  Sol, um particular, um que brilha só para ela, que brilha de jeito que leva com ele toda essa brancura de leite, de neve de prata que há em sua pele, de pérola de algodão, riscado de azul, de azul roxo, das veias que cortam seu corpo de lado a lado. Sol esse que ilumina os móveis colônias de jacarandá, centenários, tão velhos quanto coisas que traz em sua alma. As pernas torneadas esbanjam beleza única, mas o que puderam elas, uma vez que quem querem não as querem.
                 “Noc noc” faz o salto rebuscado, retro e de vermelho sóbrio, que casa com seu vestido como noivos feitos um para outro, quase que uma escadas de tom, só que de baixo para cima, do forte para o fraco, do vermelho forte que apara os pés com firmeza, para o vermelho dissolvido, perolado, salmão, que beija sua pele de porcelana. Seu salto de madeira, ao estilo anos 60 encontra mais madeira, no piso de madeira corrida, ou chão de madeira corrida? Não quer saber, nem tenta saber, ela só quer saber, mas não como chama-se o chão, porém sim porque quem quer não a quer.
                Suzzana não aguenta, a tristeza transborda, esquentando seu rosto, pálido e gélido. Noc noc, ela ouve o barulho, mas ninguém mais ouve, parece está em uma sala sozinha, oca, no meio do nada, sensação de subir ou descer serra, ouvido sem sentir, meio entupido meio entorpecido, assim era a sensação de ninguém mais escutar seu noc noc... Se fosse a sua casa já teria ido verificar quem sapateava em círculos na sala oval no meio do nada.
                 Que sala, onde ela estava? Perde-se o chão a não saber o que a pouco sabia, a quanto tempo estava ali, o que estava ali, era ela ali, mas ali como o que era ali? Onde Jorge está? Começa a ficar nervosa; seu amado finalmente irrompe a névoa do desespero e entra na saleta, trazendo ao ar pressão, seus ouvidos finalmente livres da sensação da serra, ela está ansiosa, mas nota algo errado, ele está diferente. O que houve Jorge? Parece abatido, envelhecera anos em dias? Ele não a responde, perturba-a, Jorge parece está testando-a com seu silêncio e apatia. Oh como me faz falta Suzzana, será que ainda está aqui? Jorge exclama baixo e abafado, para expando de Suzzana que corre para abraça-lo, porém seu corpo gélido só pode balança-lo em um calafrio.

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