segunda-feira, 25 de junho de 2012

Restos


Gosto de restos sabe, não que eu goste de pouco, mas é que eu gosto dos restos das coisas, o resto de brigadeiro que fica na panela, o resto de cheiro que fica do abraço, o resto de amor que fica, fica, fica até virar caramelo doce, doce... Gosto dos restos das personalidades, onde na verdade, as essências se escondem, nos restos das conversas, do que quase ninguém ouviu, porque era para quase ninguém ouvir, dos restos de sorrisos.... E eu gosto principalmente do resto que as pessoas não querem, o resto de gente que as outras não querem. Gosto de restos de perfume que vão se perdendo no cheiro da pele, se misturando, tomando outro corpo... Gosto do momento antes de amanhecer, gosto de ver os restos que foram deixados, os copos pela metade, cerveja choca, cinzas pelo chão, aperitivo frio, gosto da vida que viveu ali, não adianta, eu gosto de viver o ápice, mas tenho fascínio pelo o que vai ficando no caminho... Gosto de gosto de fim de noite; úmido, frio de sereno e quente de vida por dentro, de restos de roupas, de maquiagens desfeitas e cabelos desintegrados, gosto das pessoas chegando ao fim, seja da noite, seja da vida, gosto do limite, gosto de tudo que já está começando a se decompor, a noite ou a vida....

7 comentários:

  1. Os restos denunciam o que de inteiro havia ali. São provas de que o que passou, passou mesmo. São a parte mais teimosa e corajosa do todo: insistiu em ficar. Pregaram as unhas em tal parte do caminho e não seguiram com o resto que se foi (porque a outra parte do todo que não é resto é resto também). Podem ser a parte mais covarde: tiveram medo de ir. Os restos são evidências. Os restos noticiam quem está indo para o mesmo caminho, seja para dizer que siga ou que não vá, ou ainda que volte e me diga o que foi que eu perdi. Os restos, ainda que não viram tudo, são quem resta pra contar.

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  2. Construção complexa, um texto a parte o comentário. Obrigado pelas palavras, Sr. Anônimo.

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  3. É incrível o dom que tu tens e consegue expressar tão bem na escrita ao ponto de me deixar fascinada.

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  4. Calvê fascinando os anônimos, olha aí, gente Î hahahaha

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"Gentileza gera gentileza." - Profeta Gentileza.