sexta-feira, 15 de maio de 2015

a kamikaze

Minha timidez é kamikaze, e kamikaze sempre há de ser. E para te fazer entender do que falo, digo: sou extremamente tímido. E sempre custa tempo e angústia esperar a timidez virar corpATO, flecha. Mas quando me lanço, vou. De olhos fechados. O que sobra dos meus mergulhos é o que inscrevo no território da dita arte. Suposta. Burguesa. Suspensa. Escrever é abaixar as calças da timidez. Minha escrita é o corpo da kamikaze, escrever me constrange.   

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

desassobiar

vez outra queria ser rede. rede de pegar gente, sabe? sabe saber? rede para que em algum canto retivesse. reter-te e com isso ter algumas das histórias que não fomos. ai nos sou quando te retenho. só que é mentira, desejo. verdade que sou fluxo, na dança de tentar te reter, perco-me em outrem.  

domingo, 1 de fevereiro de 2015

nu em casa

Será que há quem tenha? Mais saudades, talvez, lá da penha? Juro que não. Penha como talvez algo de tom de novo. Pra frente. Futuro, se é que hei de ter. Não esqueço. Quero de tom grave meu último desejo, que em mim caiba para mim meu próprio silêncio desejado, homenagem ao luto. Tremo na melodia que o teu samba bossa me toca e serpenteia por todo meu corpo. Assobia-me que me torço toda pra você. Me divi(d)(n)o, mostro que sou dois, suas. Inteiras. Me venho a ser, mise-en-scène bem iluminada. Entorto-me há porretadas no botequim. Nu em casa.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

lisergia

cortes violinos
ondas endossadas
calor consciente
corpo brasado
senso ressecado
senso tido
sentido
difuso sem tido
silêncio oco
cara oca
raridade desata
tocar o toque

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

subversão da ode

tentei escrever um poema
imperativo, desaforado e mal-humorado
não pude, construção risonha, ruiu
entendido das razões, sorri
entendi.
há em mim vontade tua
do teu riso e do teu gozo
não a mim.
para ti:
        rodopiantes piruetas frouxosas de sorrisos

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Me tiro

Um tiro.
Porque vivo e sou perecível.
Dois tiros.
Porque há a natureza.
Três tiros.
Porque as cascas das arvores crescem no escuro.
Quatro tiros.
Porque há arte.
Cinco tiros.
Porque há de se chorar sem se saber os porqueres.
Seis tiros.
Porque há de se desejar.
Sete tiros.
Porque sou.
Meu tiro.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

delírio

Toda essa umidade trópica que pesa nas ruas me cansa e amolece...não sei se foi miragem, mas juro ter ouvido um louco transvestido de poeta e salvador –ou ao contrário- cantarolar baixo: “sonhos são como deuses: quando não se acredita neles, deixam de existir.” Acordei molhado, da umidade ou poesia? 

domingo, 24 de novembro de 2013

Florais

Violentas violetas
rosas rosas.
E margaridas?
Margaridas hão de ser.
Brancas e amarelas perfumarão.

Por mim tulipas poderiam ser chamadas de vênus
ou vênus de tulipa, tão logo.
Perco-me em túlipas tulipas
tulipas de carne contorcidas à ponta da boca.

Com brutal delicadeza revidam o toque.
Vulnerabilizo-me à vossa violência floral.
Feres-me com prazer.

                                Por favor. 

Sobre porque comecei a escrever de vermelho

Sangue escorrido
ou texto escrito.
Coisa mesma.

sábado, 23 de novembro de 2013

Escrever é tirar a roupa

Escrevo como quem transa, com dor, suor, prazer, coragem, muito medo e júbilo. Buscando, quem sabe, parir algo de vida. Mas expurgo de mim o que há de mais podre. Expurgo-me. Com cuidado agarro-me aos colhões com força, buscando restar-me em algum nível de mim. Preservar de mim, alguma verdade. Realidade. E real(e a)mente me apavoro, quase gozo.  

domingo, 13 de outubro de 2013

Façamos

Silenciar. É isso (!), silencio-me, silencio-te, silencio-os. Silencio em mim tudo que há de ti. Gritando assim para calar o silencio que fazes em mim, que eu fiz em mim  de ti. Toda essa construção pseudo-complexa é na verdade boba, a mensagem é clara e faz bem pouco sentido para quem lê –e também para mim. Mas afinal meu bem (quem?), nunca busquei fazer sentido, só fazer.

Ilhas

Sobre ilhas e distancias. Eu e você. 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

água

Talvez a vida não seja feita de vida, sabe (?)... A todo instante sinto que me instigas, quem? A água, ou melhor: a vida. Porque toda vez que me instigas a tocá-la (vida), hesito, mas vez em quando me invisto e revisto de coragem e coloco a mão futucante na ferida fustigante –a vida. Mas quando te toco: desfaz-te. Inconsistente como água. Dura, rasa e profunda, como água.  

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Amor em si

Porque para mim amor é o amor que há em mim, que me marca e rasga, é produto de tudo aquilo que eu vi e que me marcou, e rasgou.
Tudo aquilo que me cortou e queimou, que me ensinou a amar, tudo que se inscreveu em meu corpo, como tatuagem d’alma, é que trouxe para empiria o transcendental amor, e por isso amo, pois assumo que o amor –vivo ou não– já reside em mim.
Por isso digo que além do “instinto de amar”, se é que ele existe, só amo porque possuo memórias de amor em mim, de todas as pessoas que já me amaram, das melhores e piores formas, por todas as pessoas que já amei, das melhores e piores formas, por todo amor que já passou por mim, marcando-me. E enquanto me perco no texto, concluo que talvez amor não seja apenas memórias, mas que as memórias mais caras em meu corpo são amor em si. 

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

em branco

Você pode ler esse texto ouvindo isso daqui.

Grande parte da minha vida se resumi a encarar uma página em branco. Pronta para ser escrita, inscrita, circunscrita. Intimidando-me, tragando-me com olhos de Capitu. Implorando para que eu a escreva, vista-a, cubra sua nudez com a minha, implorando para que me dispa e derrame nela. Porém, outra grande parte da minha vida se resume a deixar de encarar essa folha em branco,  com a maior frustração do mundo, por não ter conseguido me entregar, por não ter conseguido criar, parir. Parte daí a associação da dor ao ato de escrever, porque quando a encaro e não escrevo me frustro, quando a encaro e escrevo me morro em linhas. 

domingo, 18 de agosto de 2013

Ava

Ela era só uma menina que não sabia amarrar os sapatos, só usava sapatilha. Simplificava as coisas. Gostava do gosto amargo do café e da brisa quente que antecedia um temporal –ou vendaval. Gostava ainda de vermelho, porque lembrava sangue.  Adorava sentir o gosto de sangue, deixava os lábios secarem no inverno. Gostava de fumar com dor de garganta, a fumaça densa descendo e queimando e descendo, e queimando. Adorava apagar os cigarros nos pulsos, adorava os círculos perfeitos que criava. Não sabia fechar zíperes nem abotoar botões, só usava vestidos. Prendia o cabelo com fitas, laço sabia dar. Nó não. Odiava a sensação de nós. Era fluída, tão fluída que passou como água, que depois que passou era dor, depois lembrança e antes que percebesse, virou água. Ava. 



quarta-feira, 19 de junho de 2013

Vazio


E essa gritaria insana que grita, no mais mudo falatório, que atravessam de dentro para dentro. A marcha segue lenta, a dor segue insana, oca. Oco. Vagante, de lua a lua, a procissão segue clamando, mas sempre silenciosa. Para quê ninguém sabe. Para onde, não se tem ideia. Dentro, para dentro, segue.  Buscando quem sabe adentrar mais ainda. A tentativa esquizofrênica de escrever é falha e azul. O cigarro acabou, ascende outro. Mas nem todos os tragos do mundo seriam suficientes para inflar aquilo que, talvez por natureza, é convexo. Oco, negativo, esvaziado. Vazio. 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

piu


canto de passarinho
piu
passarinho canta por cantar
falta de razão
é razão
beleza da vida
viver
quando perdi a razão
achei
já me perdi
achei
de novo
perder
é o encontro
de alma
sem razão
feito dela
piu
canto de passarinho
piu

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Excitação


Excito-me com todas as possibilidades que se descortinam bem em frente aos meus olhos, como se eu não conseguisse ver através das lágrimas, de alegria e da dita excitação, não sei ao certo para que lado correr. Corro para todos, me divido em mil tentando alcançar todas as possibilidades. Talvez alcance as mil. Talvez me parta, em mil.